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Análise de tendências: o futuro do trabalho pós-COVID-19 e o novo dilema dos desenvolvedores multiclientes

3 de abril de 2025

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Durante a pandemia, o mundo corporativo viveu um experimento em escala global: o trabalho remoto deixou de ser privilégio de poucos para se tornar o novo padrão. Desenvolvedores, principalmente, desfrutaram de um período de ouro, onde podiam trabalhar para mais de uma empresa, administrar melhor seu tempo e — sejamos francos — aumentar sua renda como nunca.

Só que o cenário mudou.

Com o fim da pandemia, muitas empresas começaram a puxar o tapete do “remoto pleno” e exigiram a volta ao escritório, ao menos em regime híbrido. E agora, temos um embate silencioso, mas inevitável: o conforto produtivo do programador nômade versus a saudade da cadeira da firma.


Empresas como Google, Amazon e Meta já deram o recado: querem seus colaboradores ao menos 3 vezes por semana presencialmente. O argumento? Colaboração, cultura organizacional, inovação espontânea nos corredores…

Mas vamos ser honestos: também é controle.

❗ Para as empresas, o remoto absoluto reduziu a visibilidade. Elas não sabem quem está com dois notebooks, nem quem trabalha para duas ou três empresas ao mesmo tempo, entregando o mínimo para cada uma.

🔍 Esse movimento de retorno parcial é, em parte, uma forma de “reapropriação do tempo do funcionário”. É o “lembrete” de que existe uma relação formal — e, para algumas, até uma ideia ultrapassada de exclusividade.


Durante a pandemia, desenvolvedores começaram a ganhar bem mais — e com bem menos dor de cabeça.

  • Home office integral
  • Zero deslocamento
  • Contratos como PJ, CLT flex ou até freelas disfarçados
  • Câmbio favorável para quem foi trabalhar para fora

Aí vieram os “vários contratos ao mesmo tempo”. E sim, muita gente surfou essa onda com maestria: dois salários, turnos bem divididos, entregas em dia.

Mas a verdade é que nem todo mundo estava preparado para isso. Começou o “copiar e colar” de código, burnout disfarçado de produtividade, prazos furados, entregas medíocres.

E quando tudo virou remoto, tudo também ficou mais fácil de esconder. Até que as empresas começaram a sentir no bolso.


O que vem por aí não é a volta completa ao modelo antigo, nem a utopia do remoto total. O que está se formando é um meio-termo incômodo, onde o escritório volta a existir, mas agora como ferramenta de monitoramento indireto e reposicionamento de poder.

🎯 As tendências mais visíveis hoje:

  • Híbrido obrigatório em grandes empresas
    Empresas como Itaú, XP e Mercado Livre já sinalizaram: trabalho remoto virou exceção.
  • Modelos mais rigorosos de contratação
    O que antes era “PJ desenrolado” agora virou contrato com cláusula de exclusividade, horário rígido e até uso de ferramentas de rastreamento.
  • Cultura da performance documentada
    Se antes bastava “entregar no final”, agora estão pedindo presença em reuniões, atualizações no Slack e KPIs bem mais visíveis.
  • Valorização de empresas que mantêm o remoto real
    Startups com modelo remoto nativo se tornam mais atraentes para talentos que não querem voltar a encarar trânsito e dress code.

Agora, surge a dúvida cruel para quem estava trabalhando em dois ou mais projetos:

  • Você consegue manter a qualidade e cumprir todos os compromissos com as empresas voltando ao presencial ou semi-presencial?
  • Está preparado para escolher uma empresa e encarar um contrato mais fechado — mesmo que isso signifique reduzir sua renda?
  • Ou vai tentar esticar a corda até arrebentar?

🎭 Muitos profissionais estão vivendo uma dupla identidade, dividindo energia, foco e responsabilidade. Mas essa estratégia, se não for sustentável, cobra juros altos: estresse, queda de performance, perda de reputação.

Reflexão: Se você está em três empresas e nenhuma delas vê você como peça fundamental, talvez o problema não seja o número, mas o impacto.


Para as empresas:

📌 Se o seu colaborador está topando trabalhar em dois lugares ao mesmo tempo, talvez sua empresa não esteja sendo atrativa o suficiente.
📌 Cláusula de exclusividade só faz sentido se houver exclusividade no tratamento também.
📌 Valorize entregas, não presenças. Cultive pertencimento — não só regras.

Para os devs:

⚠️ Trabalhar para múltiplas empresas pode ser financeiramente vantajoso, mas emocionalmente esgotante.
⚠️ Se a empresa voltar ao presencial, você terá que escolher. E a escolha deve ser estratégica, não emocional.
⚠️ Comece a pensar em criar produtos ou consultorias próprias — porque a bonança do “multicliente remoto” está com os dias contados em muitas áreas.


🧭 Para quem quer continuar remoto:

  • Busque empresas com modelo remoto por essência, e não aquelas que apenas toleraram o home office na pandemia.
  • Seja transparente sobre sua carga de trabalho. O risco de queimar sua reputação é maior que o dinheiro a mais no final do mês.
  • Entregue mais do que prometeu. Remoto exige confiança em dobro.

🧱 Para quem vai voltar ao presencial (mesmo que híbrido):

  • Use os dias presenciais para criar laços, reforçar confiança e mostrar seu valor — algo difícil de ser substituído por chats e emojis.
  • Negocie com clareza: mostre resultados antes de reclamar do modelo.

A pandemia deu autonomia. O pós-pandemia está cobrando responsabilidade.

O desenvolvedor multitarefa, nômade, multitela e multifatura está sendo observado — pelas métricas, pela entrega e agora também pelas câmeras de segurança do prédio da empresa.

O futuro do trabalho não será mais 100% remoto, mas também não será mais 100% da empresa.

Será do talento que souber equilibrar entrega com sanidade, flexibilidade com ética, múltiplos contratos com responsabilidade.

E principalmente: será de quem entende que liberdade de verdade exige disciplina.